terça-feira, 14 de abril de 2015

Martha´s Vineyard


Onde fica
Martha's Vineyard (Vinhedo de Marta) é uma ilha na costa nordeste dos Estados Unidos da América, no estado de Massachusetts. Com uma área de 231,75 km2, Martha's Vineyard é a 57ª ilha dos Estados Unidos por área. A ilha hoje é predominantemente uma colônia de férias para veraneio.
História
Era uma ilha isolada, e seus primeiros colonos vieram do sul da Inglaterra. Dentre eles, um surdo chamado Jonathan Lambert (1694), carpinteiro e agricultor. Jonathan casou-se com uma ouvinte, e geração após geração, seus filhos nasceram com o mesmo gene para a surdez. Por volta de 1710, a migração tinha praticamente cessado, e a comunidade endogâmica criada continha uma alta incidência de surdez hereditária, que persistiria por mais de 200 anos
Estatísticas
Em 1854, quando a população surda da ilha estava no pico, nos Estados Unidos a média nacional era de uma pessoa surda em cada grupo de 5728 ouvintes. Em Martha´s Vineyard a média era de uma pessoa surda em cada grupo de 155 ouvintes. Na cidade de Chilmark, que tinha a maior concentração de pessoas surdas na ilha, a média foi de um surdo para cada grupo de 25 ouvintes. Em um bairro de Chilmark chamado Squibnocket, havia um surdo para cada grupo de 4 ouvintes, ou seja, 25% da população local era surda.
A língua de sinais
Havia tantas pessoas surdas em Vineyard que os moradores desenvolveram uma língua de sinais para viabilizar a comunicação. Por volta do século 18, havia uma língua de sinais distinta na cidade Chilmark, que foi posteriormente influenciada pela língua de sinais francesa, formando a MVSL (Martha´s Vineyard Sign Language). No final do século 18 e início do século 20, praticamente todos habitantes da ilha possuíam algum grau de fluência na língua de sinais local.
A vida na ilha
O continente não era um lugar tão bom para os surdos viverem. Muitas pessoas acreditavam que a surdez era um castigo. Enquanto as famílias com surdos desenvolviam seus próprios sinais em casa, a sociedade não conseguia entender estes sinais rudimentares, pois eram diferentes de casa em casa. Os estudiosos queriam que os surdos aprendessem como uma pessoa ouvinte. Quase não havia oportunidades de carreira para os surdos adultos. O melhor que se podia esperar era ser treinado para fazer algum trabalho manual ou outra tarefa muito simples.
As perspectivas para as pessoas surdas em Martha´s Vineyard eram completamente diferentes. A igualdade rara entre surdos e ouvintes foi uma coisa notável e maravilhosa. Os preconceitos sobre as pessoas surdas não existia, fazendo a comunidade da pequena ilha parecer o lugar perfeito para os surdos.
Algumas curiosidades:
Havia surdos em todas as famílias;
A maioria da população era bilíngüe;
As pessoas eram vistas sinalizando mesmo quando não havia surdos presentes;
Os surdos eram agricultores, funcionários de lojas, ocupavam diversos postos de trabalho e também eram eleitos para cargos políticos, tornando-se prefeitos e vereadores, uma coisa inédita no resto do país;
Os agricultores sinalizavam para seus filhos em campos abertos, onde a voz não alcançava;
As crianças sinalizavam umas para as outras enquanto a professora estava de costas;
Os adultos sinalizavam durante os sermões da igreja, para não fazer barulho;
Um grupo de entrevistados, questionados sobre histórias antigas da comunidade, só podiam lembrar depois de muita insistência, se as pessoas que estavam falando eram surdas ou ouvintes.

Declínio gradual da população surda

A população surda teria continuado a crescer, se não fosse o desenvolvimento da educação de surdos no continente. No início do século 19, uma nova filosofia de ensino começou a surgir, e a primeira escola para surdos do país foi inaugurada em 15 de Abril de 1817, em Hartford, Connecticut, por Thomas Hopkins Gallaudet e Laurent Marie Clerc. A escola continua a ser a mais antiga existente para surdos na América do Norte, e hoje se chama American Scholl for the Deaf (ASD).
Muitas das crianças surdas de Martha's Vineyard  inscreveram-se lá, levando sua língua de sinais com eles. No entanto, a língua dos professores era a língua de sinais francesa, que Laurent Clerc trouxe com ele de Paris. Nesta escola muitos dos outros alunos surdos usavam seus próprios sinais domésticos. Esta escola ficou conhecida como o berço da comunidade de surdos nos EUA, e os sistemas de sinais diferentes utilizados lá, incluindo Martha´s Vineyard Sign Language (MVSL), uniram-se para formar a American Sign Language (ASL).
Cada vez mais pessoas surdas permaneceram no continente, e outros voltavam trazendo cônjuges surdos que encontraram lá (cuja perda auditiva podia não ser devido à mesma causa hereditária). À medida que mais e mais surdos afastaram-se, cada vez menos filhos surdos nasceram na ilha. No início do século 20, a comunidade anteriormente isolada de pescadores e agricultores começaram a ver o fluxo de turistas aumentando, o que se tornaria um dos pilares da economia da ilha. Os postos de trabalho no turismo não foram tão amigáveis aos surdos como a pesca e a agricultura haviam sido. Além disso, os casamentos e a migração do continente para a ilha e vice-versa fizeram que ambos cada vez mais se tornassem semelhantes. Em 1952, Katie West, a última surda hereditária, morreu na ilha. Hoje a MVSL é uma língua morta, todavia, dentre o legado deixado, está sua contribuição na formação da American Sign Language (ASL) e a prova de que surdos e ouvintes podem conviver em harmonia e sem nenhum preconceito. 

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