segunda-feira, 11 de abril de 2016

LIBRAS e Inclusão Social: O ensino aos surdos no decorrer da História

LIBRAS e Inclusão Social: O ensino aos surdos no decorrer da História

A Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS) é uma importante ferramenta para a comunicação e a inter-relação de surdos e ouvintes. Mas antes de entendê-la, vamos saber um pouco mais sobre a surdez e suas implicações.
É por meio da audição que a criança começa a sua interação com o mundo, mesmo que na gestação. Na ausência ou deficiência deste sentido, a criança encontra dificuldades. A surdez pode ter origem congênita causada por viroses maternas, doenças tóxicas desenvolvidas durante a gravidez, predisposição genética ou pode ser adquirida durante a vida por meio de um acidente ou de uma doença. É importante ressaltar que a surdez pode apresentar níveis diferentes entre os indivíduos: leve, moderada, severa e profunda. A surdez ainda pode ser unilateral ou bilateral e pode também apresentar diferentes tipos de deficiência: condutiva, neuro-sensorial, mista e central.

Para superar as dificuldades de comunicação entre os próprios surdos e entre surdos e ouvintes, se estabeleceu a linguagem de sinais. Vamos ver especificamente como é a Língua Brasileira de Sinais e sua importância para os educadores.

O ENSINO AOS SURDOS NO DECORRER DA HISTÓRIA

No decorrer da história, a surdez foi alvo de incompreensão, apresentada apenas por aspectos negativos onde os surdos foram estigmatizados de várias formas, desde loucos, doentes até como pessoas castigadas pelos deuses. Até o século XV eram pessoas consideradas ineducáveis. Em meados do século XVI, surgiram os primeiros educadores de surdos, entre eles Girolamo Cardano que propôs um conjunto de princípios que prometia uma ajuda educacional e social para os deficientes auditivos. Estes educadores desenvolveram seus ensinos em diferentes direções e suas opções teóricas situaram-se entre dois extremos: o oralismo e a posição gestualista.
Girolamo Cardano, 
médico italiano do século XVI

No Brasil, os surdos que utilizavam o método oralista apresentaram níveis elevados de fracasso e evasão escolar, não havendo assim evolução na aprendizagem desses sujeitos. Entretanto, os alunos surdos oriundos de vários centros urbanos, sinalizavam entre si, criando o momento propício para a constituição de uma língua de sinais brasileira.

Pedro Ponce de Lion - 
primeiro professor de surdos 
reconhecido pela história  
O primeiro professor de surdos reconhecido pela História foi o padre espanhol Pedro Ponce de Lion (1520-1584), monge beneditino que ensinou a ler e a escrever, fazer cálculos e falar. Ele deixou uma escola de professores para surdos. Em 1620, na Espanha, Juan Pablo Bonet (1579-1629) publica o primeiro livro sobre educação de surdos intitulado de “Redação das Letras e Arte de Ensinar os Mudos a Falar”, que consiste no aprendizado do alfabeto manual.

Juan Pablo Bonet - autor do primeiro livro 
dedicado à educação de surdos  
Em 1760, o abade Charles Michel de L’Epée (1712-1789) estudou e adaptou o método gestual que era a fusão da língua de sinais com a gramática sinalizada. Foi com abade, em sua própria casa, que surgiu uma escola pública para surdos.

Embora L’Epée tenha comprovado que seu método com o uso de sinais era eficaz, foi muito criticado por educadores oralistas alemães, entre eles Samuel Heincke (1729-1790), que desenvolveu o método oralista que atribuía grande valor a fala.

Nos Estados Unidos, no final do século XX, as discussões e disputas acerca da educação do surdo ganharam força, principalmente entre Eduard Minner Gallaudet (1837-1917) e Alexandre Graham Bell(1847-1922), ambos filhos de mães surdas, que desenvolveram atividades e metodologias na área da surdez, porém seguiam filosofias diferentes, Gallaudet era a favor da abordagem manual e Graham Bell era representante do método oralista.

Alexandre Graham Bell - Sua família tinha tradição na correção da 
fala e no treinamento de portadores de deficiência auditiva. Inventou o telefone. 
Em 1857 foi fundada a primeira escola para surdos no Brasil, sob a lei 939 de 26 de janeiro de 1857 e o Instituto dos Surdos-mudos, hoje Instituto Nacional da Educação de Surdos (INES). Foi a partir deste instituto que surgiu da mistura da língua de sinais francesa, trazida pelo professor Huet, com a língua de sinais brasileira antiga, a Língua Brasileira de Sinais, LIBRAS.

Segundo J.Schuylerhong (apud CAMBÈ, 2009)

É impossível para aqueles que não conhecem a língua de sinais perceberem sua importância para os surdos, sua enorme influência sobre a felicidade moral e social dos que são privados da audição e sua maravilhosa capacidade de levar o pensamento a intelectos que de outra forma ficariam em perpétua escuridão. Enquanto houver dois surdos no mundo e eles se encontrarem, haverá o uso de sinais.
Atualmente no Brasil, existem muitas escolas que vêm implementando uma proposta bilíngue na educação dos surdos, ou seja, aprendizado com metodologia apropriada da língua portuguesa e da língua de sinais brasileira. Os surdos brasileiros vêm lutando por um ensino que atenda eficazmente suas necessidades linguísticas e culturais para que possam integrar-se e estar em condições de igualdade com ouvintes tanto na vida social, quanto na profissional.


INCLUSÃO DOS SURDOS NA ESCOLA E O PAPEL DO EDUCADORES

A escola é o ambiente social no qual o indivíduo tem o primeiro contato externo ao seio familiar, onde ele aprende a se relacionar com as pessoas e com diferentes situações. Conforme Carvalho, a escola é muito importante na formação do sujeito em todos os aspectos. É um lugar de aprendizagem de diferenças e de trocas de conhecimentos, precisando, portanto atender a todos sem distinção, a fim de não promover fracassos, discriminações e exclusões (2004).

Alfabeto em LIBRAS
A primeira língua utilizada pelos surdos deve ser a língua de sinais, pois ela servirá de base para a aquisição da segunda língua. Assim, a língua do país de origem do surdo deve ser, na verdade, sua segunda língua, no caso do Brasil, o Português. As diferentes formas de proporcionar uma educação bilíngue à criança em uma escola dependem de decisões político-pedagógicas. “Ao optar-se em oferecer uma educação bilíngue, a escola está assumindo uma política linguística em que duas línguas passarão a co-existir no espaço escolar (...)”. (QUADROS, 2006, p.18).

A LIBRAS (Língua Brasileira de Sinais) tem sua origem na Língua de Sinais Francesa. As Línguas de Sinais não são universais. Cada país possui a sua própria língua de sinais, que sofre as influências da cultura nacional. Como qualquer outra língua, ela também possui expressões que diferem de região para região (os regionalismos), o que a legitima ainda mais como língua. Marchesi (1995, p. 219) afirma que:

A língua de sinais é uma linguagem autêntica, com uma estrutura gramatical própria e com possibilidades de expressão em qualquer nível de abstração”. Por ser tão completa quanto à língua oral é adequada, pode e deve ser utilizada no processo ensino e aprendizagem, exercendo o desenvolvimento, a comunicação e a educação dos alunos marcados por uma falta, a audição.
Estudos recentes evidenciam que as crianças surdas aprendem melhor quando são usuárias da língua de sinais. Constatou-se também que os surdos filhos de pais surdos têm melhores desempenhos escolares e são mais equilibrados mental e emocionalmente que os surdos filhos de pais ouvintes.

No entanto, existem contradições acerca do uso da língua de sinais nas classes regulares. A lei 10436/2002 (lei da Libras) regulamentada pelo decreto 5626/2005 estabelece o uso da Libras em classes regulares, bem como a formação de profissionais para que possam garantir uma educação inclusiva, mas a realidade é bem diferente. Para Carvalho, “não basta apenas colocar os deficientes em classes regulares, se faz necessário assegurar-lhes garantias e práticas pedagógicas que rompam as barreiras de aprendizagem a fim de não se fazer uma educação inclusiva marginal e excludente”. (op. cit).

Esperamos que no futuro o valor das pessoas surdas seja realmente reconhecido e aquilo que está sendo ofertado a elas por meio de leis e debates no presente seja efetivado de forma global e irrestrita num futuro próximo. O que ainda encontramos, infelizmente, são professores despreparados para lidar com esse tipo de situação, falta de apoio do governo na capacitação destes profissionais e de investimentos para estruturar melhor o ambiente onde os alunos convivem. A LIBRAS se apresenta como um método altamente eficaz para a educação, portanto, que os educadores, as escolas, os alunos ouvintes e a sociedade de modo geral possam se integrar a ela para que a inclusão social seja algo real no nosso país.

REFERÊNCIAS

CAMBÈ, Raquel. Mundo do Silêncio. Disponível em: . Acesso em 15 abr 2009.

CARVALHO, Rosita Edler. Educação Inclusiva com os Pingos nos Is. Porto Alegre: Mediação, 2004.

MARCHESI, Álvaro. Desenvolvimento psicológico e educação: necessidades educativas especiais e aprendizagem escolar. Porto Alegre: Artes Medicas, 1995.

QUADROS, Ronice Muller. Educação de Surdos: a aquisição da linguagem. Porto Alegre, 2001.

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